Legendagem com CAT – Glossários

Vou começar outra série de publicações, desta vez sobre o uso de CAT Tools, programas de auxílio à tradução, na legendagem.

Quando comecei a legendar profissionalmente, tentei usar CAT Tools. Estava empolgada, pois queria aprender mais sobre o uso das CAT e porque estava dando os primeiros passos firmes na carreira de tradução. No entanto, minha falta de experiência tanto em legendas quanto em CATs fez com que os resultados fossem toscos. Acabei decidindo que “o jeito certo” de se traduzir legendas é em programa específico de legendagem.

Há cerca de 8 semanas, porém, e não sei exatamente por que razão, resolvi tentar de novo com o OmegaT. Não volto atrás. Tem a vantagem óbvia de não precisar ficar correndo atrás de certa fala de um episódio de várias semanas anteriores que apareceu em um flashback e a possibilidade de busca nos segmentos fonte e alvo ao mesmo tempo.
No entanto, diria que o que me faz não querer voltar atrás de jeito nenhum é a possibilidade de montar glossários.

Glossários são a glória!

Nomes próprios entram no glossário assim que aparecem. Chega de ficar digitando Sawamuras, Kasumioojis, Hringhornis etc. Além disso, há certas palavrinhas que coloco no glossário também porque meus dedos insistem em digitá-las incorretamente. Por exemplo: você (vulgo vocÊ). Outras simplesmente por serem muito compridas e recorrentes.

Além disso, atualmente estou com duas séries de esportes: Daiya no A (beisebol) e Baby Steps (tênis). Ter um glossário explicativo de certos termos do esporte pode ajudar muito. Além de colocar o termo cuttercutter, também deixo uma nota para mim mesma explicando que esse é um arremesso que “cai” diante do rebatedor, com mais velocidade do que um splitter, mas cuja queda é menos abrupta.

E também tem todo o vocabulário próprio do esporte que acaba se repetindo várias vezes. Arremesso, arremessador, arremessar, rebatedor, receptor, interbases etc. E também o nome de competições. De cabeça, nunca lembraria se eu tinha colocado Circuito Júnior Kanagawa ou Circuito Kanagawa Júnior. Com o glossário, basta eu dar um Ctrl+Espaço que já insiro o termo certo na tradução.

O que não fazer?
Na minha primeira tentativa de usar CAT Tools com legendas, eu nem sabia usar glossários, então não digo por experiência própria. Porém, minha sugestão aqui é deixar os glossários de cada projeto separados, e não colocar tudo em um mesmo “pacotão”. Em uma mesma série, é difícil que isso aconteça, mas ao se juntar várias, é muito possível que haja certos desencontros e ambiguidades. Digamos que além de Baby Steps, de tênis, eu estivesse encarregada de Haikyuu, sobre voleibol. Volley em tênis é voleio, quando se devolve a bola antes de ela quicar na quadra. Volley em voleibol é simplesmente o nome abreviado do esporte, usado principalmente em nomes de torneios e de times. Ainda seguindo essa ideia, game na maioria dos casos seria partida ou jogo, mas no caso do tênis, é a subdivisão de um set.

Resumindo a ideia: cada série com seu glossário!

Programas – Archivarius

O programa recomendado de hoje é o Archivarius 3000, um programa para pesquisa em documentos. O seu uso é bem simples: escolhe-se quais arquivos se quer indexar (limitado a 10 mil na versão trial) e, quando for necessário, procura-se um determinado texto dentro dele. Rápido, leve, eficiente e intuitivo.

Se não bastasse, ele considera também as flexões das palavras. Por exemplo, ao definir o idioma português e procurar “arrumadas”, o programa também faz busca por todas as palavras derivadas de “arrumar”. Obviamente, também é possível desabilitar essa função quando se quer exatamente um termo específico.

É uma mão na roda para quando relembram de episódios (às vezes mais de cem episódios) anteriores e também para pesquisa em arquivos pessoais.

Por que estou estudando russo

Final do ano passado comecei a estudar russo por conta própria com ajuda do site Russian Pod 101. Algumas pessoas para quem eu conto isso perguntam se é para começar a traduzir desse idioma, que tem perspectivas de crescimento por conta do BRICs.

Não é nada disso. O primeiro motivo pelo qual escolhi esse idioma é porque tenho interesse em alguns aspectos da cultura russa, principalmente o ballet. Ou seja, há algo me motivando a estudar, saber e pesquisar cada vez mais. A prospecção de que daqui uns 5 anos eu possa talvez, quem sabe, quiçá trabalhar com o idioma não é lá muito motivadora.

Mas, dito isso, também comecei a estudar o idioma pensando no trabalho. Não com a intenção de traduzir dele propriamente dito, mas de poder identificá-lo (e outros idiomas da mesma família) quando surgir em traduções nas quais eu esteja trabalhando. Ainda mais se tratando de animes: Japão e Rússia têm uma proximidade considerável. Destaco entre os animes que têm influência forte da terra da Plisetskaya: Little Busters e Sekai Seifuku – Bouryaku no Zvezda.

Basicamente, diria que minha ambição é aprender um pouco da língua mais falada das principais famílias de idiomas. Por ser nativa em português e ter estudado um pouco de francês, eu consigo “me virar” nas línguas românicas. Meu japonês me permite ter uma ideia do que um texto em chinês está falando e identificar uma ou outra coisa do coreano. O russo vai me permitir identificar ucraniano, búlgaro, polonês entre outros. A ideia é mais ou menos essa. Não ser fluente, mas de bater o olho em um idioma diferente ter uma ideia de qual seja e, quem sabe, até entender seu sentido. Estou com o russo porque é um idioma que eu realmente quero saber melhor, mas quando eu for abordar o árabe, provavelmente vá me contentar com um nível A2.

Programas – Pomodoro do Arara

Não vou entrar no mérito do que se trata a técnica Pomodoro. Aqui já temos informações boas a respeito.

Porém, deixo a sugestão de um site que serve de cronômetro para a técnica: o Pomodoro do Arara. Ao contrário do TomatoTimer, que eu costumava usar, o do Arara permite que você altere o tempo de produção, o de descanso e outras variáveis. Graças a isso, descobri que, para mim, rende mais fazer tomates de 35 minutos com descansos de 7.

Para acessar essas opções, basta clicar no “Settings” no menu superior.

Programas – GoldenDict

Começando uma série de publicações de programas que uso e que facilitam minha vida. O primeiro é o Goldendict. Trata-se de um gerenciador de dicionários que trabalha com diversos formatos (entre eles, o .bgl da Babylon) e também com sites como Wikipedia e Urban Dictionary através de placeholders.

Como funciona?
Estou lá traduzindo uma frase e me deparo com uma palavra que preciso pesquisar, seja por não conhecê-la, seja por não estar me lembrando daquela tradução certa. Em vez de ter que abrir programas ou sites para pesquisar a palavra, basta selecioná-la e usar o atalho programado (por padrão, Ctrl+C+C). Com isso, abre uma pequena janela mostrando os termos que ela achou tanto nos dicionários locais quanto nos sites.

Janela do GoldenDict para a palavra "calico".

Janela do GoldenDict para a palavra “calico”.

Dicionários
É possível baixar alguns dicionários locais gratuitamente no Babylon. Recomendo muitíssimo o do Ivo Korytowski, que também tem sua versão paga e atualizada, e também os do Babylon para uma pesquisa mais genérica.

Transcriação em 3,5 etapas

No outro dia, falei sobre o que era a transcriação e por que ela é, às vezes, necessária. Hoje vou falar um pouco do seu processo.
Em seu curso de localização de jogos, Pablo Muñoz, do blog Algo más que traducir, nos dá três etapas da transcriação:

1. Ler o texto original e pensar no efeito do texto fonte
Assim como uma tradução tradicional, deve-se ler o texto de origem e entender o seu sentido. Porém, o foco aqui é no efeito que o texto fonte causa em seu leitor nativo.
Embora a série já exista no Brasil, falar aqui de My Little Ponney não causa o mesmo efeito do que falar da série nos Estados Unidos. Dependendo do caso, pode ser interessante trocar por outra referência, mesmo que seja outra série estadunidense.

2. Esquecer o texto original
Esta possivelmente é a etapa mais difícil. Difícil justamente porque é o contrário do que nós, tradutores, estamos acostumados a fazer. Inclusive uma crítica que fazem ao exame da ATA é sua predileção por uma abordagem mais literal da tradução.
Porém, para uma transcriação, deve-se esquecer o texto fonte, mas sem se esquecer do efeito que ele causa.

3. Escrever um texto que soe natural no seu idioma e que tenha o mesmo efeito que o original
Finalmente, começa o processo criativo em si de se fazer um novo texto no idioma. Embora o texto em fonte em si não tenha um papel tão fundamental nesta etapa, o efeito por ele causado tem. Não se pode deixar que um adágio vire um allegro.

No entanto, eu ainda coloco outra etapa entre a 1 e a 2.

1,5. Destrinchar o texto original
Depois de ler o texto e pensar no seu efeito, eu penso nas palavras-chaves dele. Vejo as traduções possíveis de cada palavra, seus sinônimos em português, no idioma de origem e, dependendo do caso, em outras línguas românicas. Além disso, ditados populares e provérbios, tanto no idioma de origem quanto no idioma alvo, podem ajudar muito no processo.
Com isso, o cérebro fica carregado de ideias que ajudam no processo de criação o que também facilita a etapa de esquecimento do texto original.